A edição 2023 do SXSW (South by Southwest), um dos mais relevantes eventos internacionais com foco em comunicação e inovação, propôs como reflexão central o conflito entre o avanço de tecnologias como a inteligência artificial e a necessidade de se construir uma sociedade que tenha o humano no centro. E o fato dela trazer ou não oportunidades de tornar nossas vidas mais produtivas e felizes.
Neste contexto, um dos protagonistas do evento realizado em Austin (EUA), foi o ChatGPT – ferramenta lançada pela OpenAI em novembro de 2022 e que já acumulou cerca de 100 milhões de usuários.
Dois aspectos tiveram maior destaque na abordagem do tema: seus impactos no mercado de trabalho e as possíveis transformações no universo da comunicação.
Venha conosco e fique por dentro da visão dos palestrantes sobre essas questões.
Inteligência Artificial não vai (nem quer) substituir o ser humano
Desde que a inteligência artificial generativa do ChatGPT sacudiu os mais diversos setores, uma pergunta tem sido recorrente: será que a ferramenta vai acabar com o emprego de profissionais como redatores, designers gráficos e professores?
De acordo com os palestrantes do SXSW 2023, a resposta é NÃO!
Para especialistas como Kevin Kelly, fundador da revista americana Wired, esta visão de substituição é míope. Afinal, ela ignora a importância cada vez maior das conexões entre seres humanos em discursos e ações que conectem emoções e experiências reais.
Ele argumentou que, ao contrário desta visão simplista, a inteligência artificial tem como principal objetivo facilitar os processos e atividades mecânicas, oferecendo aos profissionais mais tempo e espaço para aplicar suas habilidades criativas e cognitivas em prol de mais conexão interpessoal.
A evolução da IA caminha de mãos dadas com a procura da felicidade
A veia inovadora do SXSW ganhou um diferencial emocional na edição deste ano: a percepção de que é cada vez mais necessário instrumentalizar tecnologias em favor da felicidade das pessoas.
Uma das marcas desta conexão foi a apresentação do ‘World Hapiness Report 2023’, no encerramento do evento. A escolha se comunicou diretamente com a visão dos palestrantes: possibilitar que foquemos nas coisas que realmente importam é, talvez, a principal contribuição da inteligência artificial para a sociedade contemporânea.
Isso porque ao apontar os principais focos da agenda da felicidade para os próximos 10 anos, o relatório produzido pela consultoria ‘Gallup’ colocou pontos como qualidade do trabalho, vida em família e em comunidade como focos da agenda da felicidade.
Uma das palestrantes mais badaladas do SXSW, a futurista Amy Webb – CEO do Future Today Institute, comentou esta conexão entre tecnologia e felicidade.
Segundo ela, as evidências mostram que no lugar de olharmos ferramentas como o ChatGPT com temor, devemos vê-las com alegria e otimismo. Afinal, “são capazes de mudar a nossa vida por completo, deixando para a máquina o que é chato e nos dando tempo para fazer o que nos dá prazer”.
Profissionais de comunicação devem ser guardiões da acurácia e da credibilidade
Além de concluir que a inteligência artificial não irá substituir a mão de obra humana por sua inabilidade em promover necessárias conexões entre pessoas e conteúdo, o SXSW trouxe uma mensagem importante aos profissionais de comunicação.
Junto com o apoio importante de ferramentas como o ChatGPT, vem a responsabilidade de uma postura de guardião do conteúdo.
Em sua sua apresentação, Amy Webb destacou trechos do primeiro press release divulgado pela OpenAI a respeito do ChatGPT. Nele, a empresa afirmava que sua inovação era “muito perigosa para ser lançada, pois havia preocupações quanto à sua segurança”.
Para além de um temor presente em seu estágio inicial, os perigos do uso não-moderado da plataforma foram evidenciados por erros registrados mesmo após o lançamento de atualizações – erros estes que contemplaram tanto problemas de compliance quanto de acurácia do conteúdo.
Para os especialistas presentes no evento, apesar de não invalidarem as contribuições da inteligência artificial generativa, estas questões reforçam a ideia de que não podemos delegar à plataforma a missão de produzir um conteúdo. Sendo assim, sua responsabilidade deve estar restrita à tarefa de sugerir caminhos e possibilidades ao longo das etapas de construção.